Hoje no intervalo entre a manhã e a
tarde tive a oportunidade de romper a clausura e viver uma experiência única.
Desconfortante, porém única. Pude descobrir um pouco mais de mim e dos outros.
Caminhava declinadamente pela calçada
adjacente a praça do centro da cidade, e a principio pensava em mim, nas minhas
atitudes e de como tentava centralizar os fatos e acontecimentos na minha
pessoa. Pensei como por várias vezes fiz pessoas acreditarem que a minha ideia
era a melhor, ou até a verdade, sem ao menos ter escutado com atenção, e isso é
um princípio de educação, a pessoa que
tentava defender sua ideia. Muitas vezes não era a ideia da pessoa que era
fraca, mas a minha presunção era altamente elevada ao ponto de convencer os
outros de que as minhas ideias eram mais sólidas.
Pois bem, pensava tudo isso enquanto
caminhava pela calçada, foi quando então resolvi olhar nos olhos das pessoas
que cruzavam meus passos, olhei nos olhos afim de enxergar a alma e captar os
sentimentos claros e ocultos de alegria, tristeza, conformação, indignação,
enfim. Alguns cruzavam o meu caminho com tanta pressa que pareciam estar
atrasados para um compromisso, outros caminhavam sem pressa com sua conversas fogosas
sobre família, vida íntima e suas compras de natal. Isso me fez notar as
particularidades de cada pessoa e o emaranhado de pensamentos que fluíam de
cada um que passava naquela praça. Então, para minha surpresa, percebi-me ao
olhar para a alma daquelas pessoas, a partir das suas janelas, seus olhos, que
eu me colocava no lugar e na vida de cada ser humano daqueles que olhei nos
olhos. Aí surgiu um conflito! Em alguns eu imaginava uma vida tranquila,
metódica e serena, em outros uma vida agitada, aventureira e conflituosa,
contudo, o único de vida normal era eu, mas que para os outros era uma vida
diferente, para alguns especial, já para outros, uma perda de tempo. E quem
está certo?
Pude viver, mesmo que por alguns
segundos, a vida dos outros, pensar e agir como eles, e então percebi que eu
não era o centro do universo, e que
muitas pessoas, mas muitas pessoas mesmo, pensavam assim como eu. Percebi que o
grande mal da nossa sociedade pode ser a indiferença. A pior coisa que um ser
humano pode dar ao outro é o desprezo. E quase a maioria totalitária da
humanidade é indiferente ao outro, estou mentindo ou exagerando? Acho que não
estou! Ou você sempre ouviu o que te disseram com a mesma atenção que você
gostaria de receber ao discursar sobre algo. A maioria das amizades são
consórcios de ideais. Onde está a verdade? Fingimos prestar atenção nas pessoas
apenas para sermos sociáveis, eis a diferença entre o escutar e o ouvir. Eu não
sei você, mas eu não suporto quando estou falando com alguém e os olhos da
pessoa me dizem que estão escutando outra coisa, e tudo isso se confirma quando
a pessoa abre a boca quando termino meu "falatório". É incrível!
Nosso principio de educação social não está mais superficial porque não pode
voar.
Portanto é importante ouvir mais os
outros, ruminar suas críticas e argumentos afim de tentar tirar o essencial
para a vida. Todavia, o silêncio é um grande amigo quando se quer valorizar o
aprendizado, e principalmente quando nos colocamos na qualidade de aprendizes,
que somos e seremos eternamente. Aquele que é capaz de perceber tamanha virtude
será um bem para si próprio e para os outros, construindo assim uma sociedade
de pessoas iguais e não centralizada que exclui o outro como vemos claramente
na atualidade. Uma dica para começar a melhorar o nosso relacionamento já foi dada
pelo grande filósofo humanista da linguagem Wittgenstein "Quando o assunto
é muito sublime, cale-se".
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