quinta-feira, 23 de abril de 2015

Honestidade, obrigação ou virtude?




            Quero partilhar com vocês uma reflexão que fiz a partir de algo que me aconteceu recentemente. Pois bem, ao terminar um intenso e frutuoso dia de atividades apostólicas, eu e mais dois amigos fomos dar uma volta no parque Vila Lobos e curtir um fabuloso show com Luiza Posse afim de curtir, relaxar, arejar a cabeça e nos divertir. Feito isso, nada melhor do que uma parada para um lanche. Nos dirigimos até a uma dessas Delicatessen ultra, hiper, mega modernas onde encontramos tudo de tudo e com especial sabor e elementar valor. Após descontraído bate papo regado de deliciosas especiarias nos dirigimos ao caixa afim de pagar a conta. Um detalhe importante é que cada um recebeu uma comanda eletrônica onde deveria ser registrada as despesas individuais de cada um de nós, e nela estava escrito: “a perda desta comanda implicará o pagamento do valor de R$300”. Fiquei com tanto medo de ter que lavar pratos para pagar a perda de um pedaço de papel que não media mais do que vinte centímetros, que o guardei em lugar bem seguro.
            Já no caixa de pagamento, a atendente, ao descrever o que estava registrado na minha comanda de consumo me cobrou um valor abaixo do que eu esperava ser cobrado. Surpreso, ao conferir os insumos, percebi que não estava sendo cobrado os Chopp que eu havia tomado, foi quando disse a ela que faltava registrar as bebidas. Fiquei orgulhoso de mim mesmo ao sair de lá como quem acabara de fazer uma boa ação, orgulhoso de ter sido honesto ao ponto de contribuir com os problemas políticos no nosso país, de ter sido virtuoso, mesmo que com um aumento considerável do valor a ser pago.
Diz o ditado popular que alegria de pobre dura pouco, mas acho mesmo que o correto deveria ser, a alegria de gente honesta dura pouco. Ao chegar em casa fui conferir o cupom fiscal e percebi que foram inclusos na lista de consumo uma omelete e um refrigerante que não faço ideia de onde vieram. Meu Deus, que raiva! Fiquei com tanto ódio por pensar que a minha recompensa por ser honesto foi incluir o que não consumi. A ideia que vinha a minha cabeça era de que havia sido roubado na cara dura. A minha raiva se dava pelo fato de eu não ter me atentado para cobrança indevida e também pela desonestidade desses ladrões “Classe A”. Fiquei com vontade de voltar ao lugar, mas de que adiantaria? Então só tem um jeito, de hoje em diante, pode ter a fila que for, mas farei questão de conferir cada item junto ao atendente de caixa antes de efetuar o pagamento.
Após a esse episódio fiquei pensando e refletindo no sentimento que tal fato me causara. Meu Deus, como eu gostaria de ter sido reconhecido, como eu gostaria de ter sido recompensado pelo meu bravo ato de honestidade. Mas exatamente aí descobri que o meu erro foi esse, querer receber recompensa por aquilo que eu deveria fazer como obrigação. A honestidade tem sido um ser tão extinto em nossa sociedade que quando a vemos damos tanto destaque que sem perceber nós criamos a virtude da honestidade esquecendo da honestidade original que não passa de mera obrigação. O que nos deveria causar estranheza é a desonestidade, isso sim deveria ser fato raro, digo ousadamente, inexistente.
A nossa sociedade só será um espaço de fraternidade e de bom convivência político-social quando começarmos a exercer, não as qualidades, mas a essência do ser humano, ou seja, fazer aquilo que nós nascemos para fazer, viver uma vida com vantagens pessoais sem favorecer a desvantagem de outrem. Acho que quando percebermos isso, entenderemos que quem fura fila, manipula troco, tira vantagem das outras pessoas, rouba ou até cobra indevidamente por produtos não consumidos não fazem parte da classe dos nominados seres humanos por não compactuarem com as reais atitudes que o tornam na essência, obrigatoriamente seres honestos e virtuosos.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Democracia, corrupção e o futuro do Brasil


Eu preciso me manifestar, não posso me calar, pois não tenho esse direito!
Ontem (15/04/2015), como costumo fazer as quartas-feiras, fui conhecer um pouco mais da Avenida Paulista e tudo de grandioso que ela tem a nos oferecer, ao menos para contemplar. Ao chegar à Paulista eu notei um fluxo de pessoas bem atípico, contudo não entendi e nem me importei com a movimentação intensa. Segui, como sempre faço, à Livraria Cultura e passeio o restante das horas que me restavam conhecendo livros, autores e compositores.
Quando já era lá por volta das vinte horas decidi voltar para casa e me deparei com a avenida tomada por uma multidão que vestia camisetas em sua maioria vermelhas, bandeiras de diversos tipos, balões gigantes, trio elétrico e pessoas com tons políticos estingando a multidão, aparentemente tratava-se de diversos grupos sociais que formavam uma voz, “Somos os Trabalhadores do Brasil!” Logo identifiquei que se tratava de uma manifestação e lembrei-me das notícias pouco enfáticas que ouvira pela manhã, “Manifestantes tomam as principais capitais brasileiras.”
Como já estava no meio da multidão resolvi acompanha-la para entender um pouco mais do que de fato se tratava e ouvir quais eram as reinvindicações. Logo notei que se tratava de um posicionamento oficial da Central Única dos Trabalhadores (CUT) contra a PL4330, que na sua essência prevê a ampliação da terceirização da mão de obra brasileira. Para os trabalhadores e seus respectivos sindicatos, essa Projeto de Lei é tendenciosamente perigoso pois possui duas fortes vertentes, a econômica e a política. Economicamente permite uma ainda maior exploração da mão-de-obra e o objetivo político é dividir os trabalhadores, fragmentar suas representações sindicais.
 Enfim, caminhei pouco com os manifestantes, devido as uma intensa e fina chuva que caía e por notar um aumento gradativo de pessoas, e também, em se tratando da hora que já se avançava e das notícias desagradáveis de movimentações como essa, resolvi segui meu caminho para casa. Fiquei extremamente impressionado, pois caminhei cerca de 20 minutos no contra fluxo da manifestação e não via o seu fim. Quando passei pela Rua Augusta, que corta a Avenida Paulista, uma multidão a perder de vista ainda vinha como imenso rabixo daquilo que já deveria estar próxima à outra extremidade da Paulista.
Quando eu cheguei em casa comecei a pesquisar nos canais de notícias informações sobre o protesto. O meu interesse era saber o número de pessoas, quais repercussões além dos meus olhos aquelas manifestações tiveram, opiniões de comentaristas políticos e tals. E para a minha decepcionante surpresa ninguém falava nada. Isso mesmo absolutamente nada! Não acreditei no que estava acontecendo, mas não desisti e continue procurando mais afundo, mas apenas a mesma notícia vaga de Protestos contra a PL 4330 pelo Brasil. Inacreditável. Após ao meu fracasso, fui me atualizar acerca das notícias do meu estado de origem, o Espírito Santo, como faço frequentemente. No noticiário local eles deram grande enfoque para as manifestações, contudo, foi lamentável ouvir a repórter dizer “Essas manifestações estão causando muitos transtornos à população”. A declaração dessa repórter me fez escrever esse texto.
Estou extremante decepcionado com o mercado midiático do Brasil. A expressão dessa senhora demonstra a visão unilateralista que a imprensa vem assumindo no nosso país. Ela se diz comprometida com a verdade e que é imparcial, mas trata-se de pura mentira. Isso é muito perigoso, pois além de não dizer a verdade, ela manipula uma porção da sociedade pouco crítica e especulativa.
Obviamente uma movimentação dessas em plena semana causa muito transtorno à muitas pessoas, principalmente se eu não participo desse grupo. Contudo, a pergunta que eu me faço é, em que momento essas pessoas terão o direito de dizer que há algo inconveniente ou inviável acontecendo com as suas vidas, suas histórias, seus futuros? Será que o fantástico vai abrir o microfone para essas pessoas? O jornal Nacional? Não, infelizmente não. Esse espaço está capitalistamente reservado para os passeios familiares de domingo à tarde, que apesar de necessário e fundamental numa democracia, está pautado em argumentos pouco fundamentados na história política do nosso país.

Pra falar a verdade, mesmo correndo o risco de ser redundantemente compreendido, não acredito que o problema político do Brasil seja político. Digo isso pois o homem político na sua essência deveria ser um homem bom à serviço do outro. Com isso nós já distorcemos esse termo e dizemos que políticos são os corruptos que nós escolhemos com o slogan “rouba mas faz”. Político sou eu, político é você, político somos nós que nos preocupamos com o Brasil em um todo. Portanto, uma atitude ante política é a da repórter ao mostrar apenas um lado da opinião, a sua própria, ou de que a paga. Acredito que o Brasil será melhor não só quando prenderem todos os sanguessugas da PETROBRÁS e reaverem o dinheiro roubado, ou quando houver uma reforma política, ou quando trabalhadores terceirizados ou não possuírem direitos e condições dignas de vida humana, ou até mesmo quando a presidente Dilma sofrer um Impeachment, mas eu acredito que viveremos num país digno quando o nosso direito não ferir o direito do outro, quando o bem estar de outras pessoas estiverem inclusas no meu projeto pessoal de beneficiamento, ou até mesmo quando a felicidade do outro me fizer feliz também. Penso que vale a pena tentar um mundo assim já que o contrário já provou sua incompetência. Realizar-se é bom, mas realizar-se sozinho é corrupção, contudo, realizar-se com alguém, isso sim é democracia.