terça-feira, 27 de agosto de 2013

Nos Passos da JMJ: Crônicas de um quase peregrino #02


            Algumas semanas antes de chegar ao Rio de Janeiro fui informado da minha principal função com o grupo de italianos, dirigir pelos quatro cantos do Rio e ser uma espécie de “guia turístico” levando-os onde fosse necessário. Na mesma hora passou um filme na minha cabeça, e logo o lancei para o promotor da proposta... “Nunca andei pelo Rio, muito menos dirigi por lá; e quanto ao italiano eu até entendo, mas não sei falar direito!” A resposta veio logo em seguida sem titubeação, “Isso não é problema! Eles só precisam de um salesiano para acompanha-los, e o resto será providenciado.” E realmente foi... Providenciei imediatamente de aprender a mexer com o GPS do meu Smatphone. Ufa! Que salvação.
            Vários episódios engraçados ocorreram durante a minha função de chofer internacional. Uma que, na minha opinião, foi a mais irônica aconteceu numa noite que saíamos de Niterói rumo a Barra da Tijuca, havia chuva e pouca visibilidade, o GPS era meu amigo e conselheiro, dado que era o único que se fazia entender no meio de tanta confusão e falatório. Em um certo momento um dos italianos começou a gritar “sinistra, sinistra, sinistra”! Eu sabia lá o que isso significava!? E segui tranquilamente até o meu GPS informar “Recalculando rota!” Percebi que havia algo de errado! Daí, tomei consciência de que os italianos estavam tentando se comunicar com as mãos que era para eu ter seguido a pista da esquerda. Pensei comigo: “Fudeu! Estou perdido no Rio de Janeiro com um bando de gringos!” Segui em busca de uma forma de retornar para tentar concertar o erro, mas não havia nada do tipo. Seguindo o trajeto não oficial fui chegar à Lagoa Rodrigo de Freitas na Zona Sul do Rio de Janeiro, para minha surpresa os italianos já conheciam aquela região e começaram a me orientar com os braços dizendo qual rua e avenida eu deveria seguir. Tudo isso foi meio confuso, mas eu aprendi que “sinistra” é esquerda, “diritto” é direita e “diretto” é seguir em frente. Foi divertido, porém irônico um brasileiro ser guiado por estrangeiros em sua própria pátria.
            Diz um ditado popular que Deus protege os loucos, bêbados e crianças, pois bem, nos enquadramos nesse ditado. Era uma noite de muita chuva e frio, e mais uma vez estávamos saindo de Niterói rumo a Tijuca, e este episódio aconteceu sobre a ponte Rio-Niterói (Fiquei craque nessa ponte, pois passava por ela cerca de seis vezes por dia). O transito estava muito lento devido a chuva, e em alguns trechos chegávamos a parar o carro, num desses momentos os burburinhos em italiano começaram a aumentar e quando eu dei por mim as portas traseiras se abriram e dois italianos, o Ricardo, cinegrafista, e o Antônio, jornalista, saíram do veículo e começaram a gritar “siamo italiani”, eles gritavam e pulavam pela ponte, rodavam o carro e gritavam. O Ricardo portava uma filmadora de £95,000,00 (noventa e cinco mil euros). Confesso que nessa hora eu fiquei com medo e gritava para eles entrarem no carro, até que assim fizeram quando o transito começou a fluir. Eles se divertiram demais com isso, e ainda gritavam pela janela “Napoli” comparando o Rio de Janeiro com a cidade de Napoli na Itália. Depois de passado o episódio fui informado que a nossa sorte foi que nenhum policial viu a situação, pois se tivesse presenciado teríamos todos passado a noite na cadeia por tentativa de homicídio de suicídio. Imagina só o risco de corremos.

            Depois de tanto susto e após um dia fatigante e cansativo só nos restava “comer, banhar e dormir”. Usei a expressão: “Estou com uma fome de leão” e eles me ensinaram “há uma fame da lupi” e assim encerramos a noite satirizando o hábito alimentar de cada cultura. Eles por comerem batata com maionese e nós por comermos pizza com maionese. Enfim, tudo se encerrou em paz. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Nos passos da JMJ, crônicas de um quase peregrino #01


            A Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 começou para mim ainda no mês de setembro do ano passado quando começamos a nos organizar para irmos ao Rio de Janeiro. O nosso grupo era composto por 54 membros, dos quais haviam salesianos e jovens das obras salesianas de Belo Horizonte. A cada encontro que realizávamos em preparação para a jornada nos tornávamos uma família de amor e fraternidade, isso aumentava ainda mais a expectativa para a JMJ. Há alguns meses da Jornada eu fui convidado a integrar a equipe de Comunicação Social da Família Salesiana e acompanhar no Rio de Janeiro a equipe da Missioni Don Bosco da Itália que iria fazer um documentário sobre os jovens que participavam da JMJ, encerrava aí toda a preparação enquanto peregrino e surgia uma corrida contra o tempo para preparar-me para o trabalho confiado.
            Com essa mudança surgiram algumas frustrações. Primeiro a de ter que deixar de ser peregrino e a “família” constituída nos encontros e acampamentos realizados em Belo Horizonte. Depois em ter que dirigir pelas ruas de uma cidade como o Rio de Janeiro sem ao menos conhece-la, e além de transportar uma equipe de jornalistas estrangeiros. Confesso que fiquei com medo e pensei em desistir, foi dureza!
            Contudo, apesar de tantos transtornos, tive uma grande oportunidade de acalmar meu coração, aliviar a minha a alma e fazer uma excelente preparação para a JMJ. Isso se deu na Semana Missionária em Barbacena, onde sem sombra de dúvidas pude fazer uma rica e profunda experiência do Amor de Deus e viver a melhor preparação para o grande evento que reuniria jovens do mundo inteiro.
            Viajei no dia 21 de julho para o Rio e desde o Aeroporto de Confins pude respirar o clima da jornada encontrando-me com vários peregrinos que tinham o mesmo destino que o meu. O voo que eu estava parecia ter sido fretado exclusivamente para a JMJ, foi muito bacana. Nesta hora eu percebi, pela primeira vez, como os olhares do mundo inteiro estavam voltados para o Rio. Ao desembarcar no Aeroporto Santos Dumont fui acolhido por uma voluntária muito simpática natural da Argentina. Outro ponto que me chamou muito a atenção os voluntários estrangeiros eram tão acolhedores que a impressão que tive era de que eles viviam há anos no Rio e de que estavam nos acolhendo em suas próprias casas. Pude viver na pele a letra do Hino oficial da JMJ 2013, “...nossa terra não tem cercas, nem limites o nosso amor...” Realmente, naquela semana no Rio de Janeiro ouvia-se apenas uma linguagem, a do Amor, e a cidade sede da jornada tornava-se o coração do mundo.
            Não demorou muito para que uma frente fria nos pegasse de surpresa e nos fizesse sentir na carne a dor de espinhos. Não consigo me recordar de uma noite mal dormida devido ao frio que o meu corpo era castigado como aconteceu na jornada, a chuva tornava o frio ainda mais violento, contudo, a fraternidade que se vivia nas ruas transformava dificuldades como essas em propósitos  de alegria e serviço. As pessoas se ajudavam mutuamente e não permitiam que algum necessitado seguisse adiante sem ao menos experimentar da amigável caridade.
            Devido ao meu trabalho com a equipe da Missioni Don Bosco pude participar da catequese em diversos idiomas diferentes e encontrar-me com as culturas mais diversas do globo terrestre; Isso me ajudou a experimentar a unidade da Igreja no mundo inteiro, e a perceber que é na diversidade que nos tornamos um. Cada sorriso, cada olhar, cada rosto expressava um gesto de gratidão a Deus por viver tão grande alegria.
            O encontro com o Papa Francisco faz o coração arder e nos faz correr ao encontro de outras pessoas afim de anunciar que Cristo Vive e Reina. Ele nos envia em missão “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”, e sob esta ordem nós retornamos aos nossos lares não mais como simples seguidores, mas como Discípulos Missionários de Jesus, animados a anunciar as “Maravilhas que Ele tem realizado entre nós”. No final da JMJ pude perceber que apesar de se tratar de um evento de massa, e no caso do Rio com um público de mais de 3,5 milhões de pessoas, a experiência da jornada não é coletiva, mas particular, individual. Cada um, mesmo que tenha andado junto de alguém o tempo todo, faz a sua experiência de fé que é única. Assim como o encontro pessoal com Deus divide a história do indivíduo em duas, antes e depois, a Jornada Mundial da Juventude torna-se na evangelização da Igreja um novo campo de missão, tornando os jovens protagonistas de suas histórias e construtores de uma nova civilização, a Civilização do Amor.