segunda-feira, 15 de novembro de 2010

New Single

QUERO TRANSFORMAR EM CANÇÃO é minha nova música. "Quero transformar em canção os versos que trago no coração!" Ela surgiu após um profundo momento íntimo de espiritualidade na tarde de hoje! E Realmente é o que eu quero cantar hoje, "quero transformar os versos puros e simples na minha vida em grandes e eternas canções"

sábado, 6 de novembro de 2010

Passeio de Helicóptero em Caldas Novas

A resposta capixaba

O título deste artigo - "A resposta capixaba" - já tinha sido escolhido para comentar os resultados das eleições presidenciais no Espírito Santo quando o governador eleito Renato Casagrande disse, segunda-feira no CBN Cotidiano, que a vitória de Serra sobre Dilma no Estado era "uma resposta" dos capixabas à demora do governo federal em resolver "gargalos da infraestrutura" como o aeroporto de Vitória, a ampliação das BRs 101 e 262 e a dragagem do Porto de Vitória.
Casagrande tem razão, mas à lista de "dívidas" do governo federal podem ser adicionadas muitas outras pendências tão prometidas quanto negligenciadas pelas nossas autoridades. Entre elas estão os recursos para projetos de mobilidade urbana que nunca vieram - lembram-se do metrô de superfície? - e para a área de segurança pública. Na saúde é ainda pior, pois os recursos federais foram diminuindo ao longo do tempo deixando a batata quente para ser descascada pelo Governo do Estado.
O fato concreto é que o Espírito Santo engorda os cofres federais com os impostos que paga e recebe de volta um décimo do total. E não há à vista perspectivas de que esse quadro possa se modificar em curto prazo já que os olhos do governo federal estão voltados para investimentos nas cidades que irão sediar a Copa de 2014. No caso da BR 101, por exemplo, o orçamento da União só prevê investimentos no Nordeste e no Sul. O porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, como revelou em texto publicado nesta mesma página o professor Roberto Simões, irá receber quatro vezes mais dinheiro que os portos capixabas.
E não vale argumentar que o governo federal investe no Espírito Santo através da Petrobras. A Petrobras investe recursos que obtém com as suas operações e não de impostos arrecadados pelo governo federal. Sem contar que o Espírito Santo é, entre os maiores produtores de petróleo, o único que não conta com um estaleiro. Uma refinaria, então, nem pensar. Até o governador Paulo Hartung, nesta semana, entrou na briga contra uma exigência da Petrobras que prejudica os planos de implantação no Estado de um estaleiro da Jurong.
E por falar em petróleo, não há como tirar do governo federal as responsabilidades de o Espírito Santo perder os royalties que poderiam representar a sua redenção econômica depois de tantos anos de discriminação. Especialistas garantem que o governo federal não precisaria mudar a lei do petróleo - passando do regime de concessões para o de partilha - para assegurar maiores recursos na exploração do pré-sal. Bastaria mudar, através de um decreto, as participações especiais que existem na atual legislação. Ao propor uma nova lei, o governo federal abriu espaços para que surgissem as emendas Ibsen, na Câmara, e Simon, no Senado, que dividem com todos os estados os royalties que eram exclusivos dos estados produtores. E as emendas foram aprovadas sob os olhos complacentes do governo.
A decisão deixa o Rio e o Espírito Santo reféns de uma promessa - que talvez nem seja cumprida - de Lula vetar a emenda, o que também não é garantia de que o Congresso não derrube o veto posteriormente. Resta a esperança de que seja pelo menos aberta uma negociação que preserve os royalties das áreas já licitadas o que pelo menos faria com que o Rio e o Espírito Santo não perdessem o que já têm. Daríamos adeus aos sonhados royalties do pré-sal, mas pelo menos não perderíamos os dedos e os anéis de uma só vez.
O recado dos capixabas já foi dado nas urnas. Seria bom que todos os políticos o entendessem, e dele tirassem lições, como parece que já foi feito pelo governador eleito.

José Carlos Corrêa escreve nesta coluna aos sábados.
E-mail: jccorrea@redegazeta.com.br

PASSEIO SOCRÁTICO

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelo produz felicidade?'
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos:
'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento?; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. ' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

Frei Betto