segunda-feira, 18 de março de 2013

O dom da vida


            Durante algum tempo, principalmente com os último acontecimentos, fiquei muito incomodado com as notícias e especulações que alguns veículos de comunicação em massa divulgaram sobre a Igreja e os cristãos. O desconforto maior era por acreditar em uma intenção maligna de ferir a unidade e a integridade de uma instituição que sempre buscou o bem da humanidade, mesmo que alguns a tenham manchado, ela, a Igreja, continua imácula diante do mundo porque transcende o objeto e forma-se algo subjetivo.
            Todavia, preciso confessar que a transição da sucessão papal, que vivemos nos início deste ano de 2013, me fez amar e me orgulhar do simples fato de pertencer ao seio da Igreja Católica Apostólica Romana. Foi quando o papa Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro que percebi, isso é dom de Deus. Neste momento um filme passou pela minha cabeça e eu percebi a minha história de vida dentro da História que Deus escreveu para toda a humanidade. Nessa hora, mesmo sem me lembrar, me vi no dia em que fui batizado e passei a ser membro do Corpo de Cristo, isso me levou ao Rio Jordão no momento em que João Batista batizava Jesus, e eu ouvi Deus dizer: “Este é o meu filho amado!” Foi aí que eu nasci!
Em seguida, fui levado a um fato muito marcante na minha vida, a conversão do meu pai. Quando ainda não tinha consciência do juízo, eu acompanhava a minha mãe até as missas enquanto o meu pai nos aguardava num botequim mais próximo à Igreja. Com o passar do tempo, fui percebendo que as noites de domingo na porta de um bar qualquer eram mais divertidas do que as celebrações dominicais, que me causavam imenso cansaço e desânimo. Fui logo querendo fazer a minha opção de liberdade mesmo sem der o domínio do juízo. Minha mãe tinha um discurso pronto, “Seu pai é vacinado, maior de idade, dono da vida dele, e você não”, tudo bem que eu só entenderia isso anos depois, mas pra mim tais palavras não faziam sentido algum. E o meu pai sempre dizia, “Vai com a sua mãe que é o melhor pra você!”, e era o que eu menos entendia, por que o que era bom para minha mãe e eu não era bom para ele? Depois de muitos dias de incompreensão, insistência e choro, uma surpresa, o meu pai nos acompanhou até a Celebração Eucarística. Eu não entendi aquilo, mas lembro bem que fiquei muito feliz, principalmente porque após uma boa participação na missa haveria sempre um delicioso sorvete. Então ouvi novamente a voz de Deus a me dizer, “Desde o ventre da sua mãe Eu o conhecia”.
E as cenas do filme continuavam a serem contextualizadas naquela tarde. Fui levado a uma das cenas mais dramáticas de toda a minha história, a época das crises juvenis e as revoltas dos rebeldes sem causa. Nesse tempo eu quase consegui aniquilar com a minha família e com o casamento dos meus pais. Eu só queria liberdade, independência, reconhecimento e ser um jovem normal na sociedade real, o mote “Sexo, drogas e Rock’n Roll” era o meu lema e o mundo das baladas era a minha casa. Que feliz ilusão! Apesar de alcançar diversão a agonia vinha logo em seguida dilacerando a minha alma. Mas também, qual era a minha vontade? Eu estava tentando me conhecer fugindo de mim mesmo, fugindo do que eu era. Eu queria ser como os outros e não o que eu queria ser. Foi quando Deus falou, “Não temas pois Eu estou contigo, coragem jovem!” A liberdade sempre esteve dentro de mim e eu não a conhecia.
Outra cena que chamou muito a minha atenção foi a festa, a alegria, a amizade. Como tive o privilégio em participar da vida de pessoas que em sua pequenez e humildade se mostraram grandes pessoas, amigos que sem a convivência eu não seria a pessoa que sou hoje, talvez uma pessoa muito mais rude e mesquinha. E se hoje eu tenho esse sorriso estampado e o capricho de viver momentos de nostalgia frequentemente é porque eu tive o privilégio de ter tido pessoas especiais nessa história, nesse filme. E Deus novamente falou “Quem tem um amigo, encontrou um tesouro de valor inestimável” Contudo, foram eles que me encontraram e não eu que encontrei, pois foi Deus quem os entregou de presente para mim.
A última cena do filme não foi a cena final, mas talvez a que indicasse o início de tudo. Voltei a minha consagração apostólica como Salesiano de Dom Bosco, foi quando eu nasci de novo, nasci para uma nova vida, uma nova experiência, uma nova caminhada que é tão dura como qualquer outra, mas que trás a minha alma a confirmação de tudo que acontecera antes, que fora vivido e partilhado. Um misto de sentimentos invadiu o meu ser e eu pude ouvir Deus dizendo, “Eu te chamei pelo nome, tu és Meu!” (lema de profissão). Só então pude entender que durante toda a minha história, desde o início, Deus sempre esteve ao meu lado e acompanhou todos os meus passos fazendo com que a minha vida fosse um sincero sim de santidade e que estar vivo, ser quem eu sou, ser cristão, ser católico, ser consagrado, ser salesiano, ser Denis não é um simples fato, mas é Dom de Deus.

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