Numa dessas noites de inverno quando cheguei em casa tive a
ousadia de olhar pela janela. A escuridão iluminava a paisagem, as árvores imóveis
pareciam camufladas em suas copas sob uma lua crescente que dominava a noite.
Contudo, uma coisa muito chamou a minha atenção na janela, isso mesmo, algo
mais do que a lua, as árvores e a noite. Era possível enxergar o frio, ele era
visível, tinha forma, cor e parecia ter até sabor. O frio tornara o meu
cárcere, o meu corpo era trancado enquanto o meu interior preso também estava,
mas não ao frio, não a noite, a escuridão, ele estava quilômetros dali, preso a beira do rio sob a
luz da lua e o perfume suave dos canteiros aflorados em que a bela dos lábios
quentes, alegria da minha alma e advogada da minha causa libertadora, repousava
delicadamente. Confesso-te apenas uma coisa, oh fugaz advogada, sonharei com o
seu beijo, mesmo que acordado. Quem sabe esses versos noturnos amanhã não me
tragam a liberdade da alma.
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