quinta-feira, 1 de março de 2012

CHEIRO DE CASA E AROMA DE LAR



a história da vida que nos educa a sermos personagens de uma grande trama ao mesmo tempo em que somos protagonistas

         Numa tarde fria de chuva fina me encontrei a pensar sobre os sabores da vida. Sim, a vida possui vários sabres dentro do cardápio que elaboramos para ela, alguns sem sal e outros bem temperados, conforme o nosso paladar.
         Comecei então a pensar nos sabores do passado, nos sabores da minha juventude e adolescência, mas percebi que o que mais me chamava a atenção não era tanto o sabor, mas o cheiro que os sabores da minha história exalava. Ah! Cheiro de casa, como faz falta! O cheiro da terra molhada pela chuva que mesmo nos querendo aprisionar não era capaz de nos impedir do barro e da lama, cheiro de brisa marinha que nos levava as alturas, mesmo nos fazendo perceber tão pequenos diante do imenso oceano, cheiro de cará, de pitú pescados no brejo com linhas de costura e anzol de grampo, cheiro do carinho da família, das conversas de amigos e dos beijos apaixonados. O cheiro da vida traz muita saudade, mas traz também alegria, confiança e a certeza de que existimos, a certeza de que vivemos e compomos nossa própria história.
         Ainda sinto o cheiro de casa, mas já não é mais a mesma coisa, apesar de que não consigo me desprender dele, o cheiro de casa é a minha história, é o que tempera a minha vida, é o que me faz estar preparado para saborear o cardápio que por mim foi composto, mas apesar de sentir o forte cheiro de casa, é irresistível não sentir o arama de lar. Sentir o aroma de lar é ser capaz de continuar sentindo o cheiro de casa mesmo após ter saboreado todo seu gosto e essência. Sentir o aroma do lar é desprender-se da lembrança afim de compor uma história despretensiosa, é ser quem somos de verdade. Sentir o aroma do lar é participar da realização dos nossos sonhos, é a maturação do sabor, da cor, da essência. Sentir o aroma do lar é aceitarmo-nos como protagonistas da história que encenamos, que atuamos. Assim, quando nos possibilitamos sentir o aroma da vida, abraçamos a morte como o perfume mais raro que produzimos no boticário de essências únicas e exclusivas, pois nos fará perceber que a vida e a morte não fazem diferença quando o sabor da nossa história possui os temperos que são do nosso agrado.
         É preciso querer ser livre antes mesmo de ser feliz, é preciso ter coragem para dar o primeiro passo e estar aberto ao horizonte que se inaugura, e por fim, é preciso ser autêntico e só então seremos a personificação do que se deseja ser. A realização do que se sonha é a composição da história em que se acredita e que se faz real, a história do cheiro de casa com aroma de lar, a história da vida que nos ensina a cada dia como desbravá-la, a história da vida que nos educa a sermos personagens de uma grande trama ao mesmo tempo em que somos protagonistas do nosso mundo das ideias, a história de gostos, sabores e cheiros, a história com cheiro de casa e aroma de lar.

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