Na Idade Média, pairava sobre a
sociedade o pensamento de que o corpo era o “cárcere da alma”, acreditava-se
que o corpo era o algoz feroz da alma. Muito se trabalhou para que tal
mentalidade sofresse uma metanóia. Grandes pensadores e religiosos da época,
hoje alguns considerados santos e grande pensadores que influíram no pensamento
filosófico, eram adeptos dessa idéia. Castigava-se a carne a fim de alcançar um
pensamento puro ou uma alma devota, assim, muitos alcançaram um estado
considerado de perfeição.
O tempo se passou, alcançou-se a
modernidade, a pós-modernidade, a pós pós-modernidade, enfim, e chegamos na
contemporaneidade, e percebe-se que a mentalidade medieval fora superada a tal
ponto que os valores mudaram radicalmente. Cuida-se do corpo para que a alma,
ou o próprio ego, sinta prazer, satisfação, gozo. Todavia, a preocupação
primeira era a exaltação excessiva da alma, e hoje, eleva-se ao supremo grau de
relevância o corpo sadio, malhado, bonito, definido, bombado, que se gasta
muito dinheiro, etc.
As praças das cidades, lugar do
encontro, encheram-se de equipamentos de atividades físicas, espelhos, papos
formais, músicas alta e agitada, suor, vitaminas, complementos alimentares,
enfim. Não se comem mais as tradicionais comidas nas festas familiares, nas
reuniões com os amigos, etc. quanto mais esbelto for o corpo, mais popular,
sociável, bonito, simpático é o sujeito. A sociedade o aceita melhor se o
indivíduo apresenta tais características. Contudo, questiono-me. O que a
sociedade está produzindo? Belos postais recheados de ensaios em corpo violão?
E as canções, não as produzem nada mais além da felicidade pessoal no corpo
malhado ou do tapinha na cachorra? A metanóia aconteceu, contudo longe de um equilíbrio.
O corpo malhado é a nota musical “LA” no diapasão da contemporaneidade. Por que
será que o nosso século está marcado pelo auge das doenças psíquicas? Por que
será que as doenças da alma estão cada vez mais presentes e freqüentes?
É preciso buscar o equilíbrio entre
a saúde da alma, na Idade Média, e a saúde do corpo, no nosso século. Malhar a
alma é compor uma canção e os versos de um poema, não ter medo das conversas
informais entre familiares e amigos, malhar a alma é deixar algo que seja bom de
herança para a geração atual, ou até quem sabe gerações futuras, malhar a alma
é produzir reflexões científicas e filosóficas, é acreditar num mundo melhor e
lutar por ele.
Existem academias do corpo, as
academias do pensamento, porém precisamos difundir as academias da alma, e
precisamos enchê-las com nossas contribuições. A academia da alma não é uma
instituição, mas tem seu estatuto fundacional na gênese do desejo de ser feliz,
física e psicologicamente. As academias da alma curam até câncer e outras
doenças físicas, e fazem de seus adeptos pessoas espontaneamente felizes,
autenticamente alegres e com o gozo equilibrado.
Malhemos as nossas almas para que
elas sejam robustas, esbeltas, como nossos saudáveis corpos. Malhemos nossas
almas para percebermos que não precisamos aniquilar ou matar ninguém ou algo
para que um aspecto da vida seja elevado. O equilíbrio será alcançado nos
exercícios do corpo, da alma e do pensamento.
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