Eu preciso me
manifestar, não posso me calar, pois não tenho esse direito!
Ontem (15/04/2015),
como costumo fazer as quartas-feiras, fui conhecer um pouco mais da Avenida
Paulista e tudo de grandioso que ela tem a nos oferecer, ao menos para
contemplar. Ao chegar à Paulista eu notei um fluxo de pessoas bem atípico,
contudo não entendi e nem me importei com a movimentação intensa. Segui, como
sempre faço, à Livraria Cultura e passeio o restante das horas que me restavam
conhecendo livros, autores e compositores.
Quando já era lá por
volta das vinte horas decidi voltar para casa e me deparei com a avenida tomada
por uma multidão que vestia camisetas em sua maioria vermelhas, bandeiras de
diversos tipos, balões gigantes, trio elétrico e pessoas com tons políticos
estingando a multidão, aparentemente tratava-se de diversos grupos sociais que
formavam uma voz, “Somos os Trabalhadores do Brasil!” Logo identifiquei que se
tratava de uma manifestação e lembrei-me das notícias pouco enfáticas que
ouvira pela manhã, “Manifestantes tomam as principais capitais brasileiras.”
Como
já estava no meio da multidão resolvi acompanha-la para entender um pouco mais
do que de fato se tratava e ouvir quais eram as reinvindicações. Logo notei que
se tratava de um posicionamento oficial da Central Única dos Trabalhadores
(CUT) contra a PL4330, que na sua essência prevê a ampliação da terceirização
da mão de obra brasileira. Para os trabalhadores e seus respectivos sindicatos,
essa Projeto de Lei é tendenciosamente perigoso pois possui duas fortes
vertentes, a econômica e a política. Economicamente permite uma ainda maior
exploração da mão-de-obra e o objetivo político é dividir os trabalhadores,
fragmentar suas representações sindicais.
Enfim, caminhei pouco com os manifestantes,
devido as uma intensa e fina chuva que caía e por notar um aumento gradativo de
pessoas, e também, em se tratando da hora que já se avançava e das notícias
desagradáveis de movimentações como essa, resolvi segui meu caminho para casa.
Fiquei extremamente impressionado, pois caminhei cerca de 20 minutos no contra
fluxo da manifestação e não via o seu fim. Quando passei pela Rua Augusta, que
corta a Avenida Paulista, uma multidão a perder de vista ainda vinha como
imenso rabixo daquilo que já deveria estar próxima à outra extremidade da
Paulista.
Quando
eu cheguei em casa comecei a pesquisar nos canais de notícias informações sobre
o protesto. O meu interesse era saber o número de pessoas, quais repercussões
além dos meus olhos aquelas manifestações tiveram, opiniões de comentaristas
políticos e tals. E para a minha decepcionante surpresa ninguém falava nada.
Isso mesmo absolutamente nada! Não acreditei no que estava acontecendo, mas não
desisti e continue procurando mais afundo, mas apenas a mesma notícia vaga de
Protestos contra a PL 4330 pelo Brasil. Inacreditável. Após ao meu fracasso,
fui me atualizar acerca das notícias do meu estado de origem, o Espírito Santo,
como faço frequentemente. No noticiário local eles deram grande enfoque para as
manifestações, contudo, foi lamentável ouvir a repórter dizer “Essas
manifestações estão causando muitos transtornos à população”. A declaração
dessa repórter me fez escrever esse texto.
Estou
extremante decepcionado com o mercado midiático do Brasil. A expressão dessa
senhora demonstra a visão unilateralista que a imprensa vem assumindo no nosso
país. Ela se diz comprometida com a verdade e que é imparcial, mas trata-se de
pura mentira. Isso é muito perigoso, pois além de não dizer a verdade, ela
manipula uma porção da sociedade pouco crítica e especulativa.
Obviamente
uma movimentação dessas em plena semana causa muito transtorno à muitas
pessoas, principalmente se eu não participo desse grupo. Contudo, a pergunta
que eu me faço é, em que momento essas pessoas terão o direito de dizer que há
algo inconveniente ou inviável acontecendo com as suas vidas, suas histórias,
seus futuros? Será que o fantástico vai abrir o microfone para essas pessoas? O
jornal Nacional? Não, infelizmente não. Esse espaço está capitalistamente
reservado para os passeios familiares de domingo à tarde, que apesar de
necessário e fundamental numa democracia, está pautado em argumentos pouco
fundamentados na história política do nosso país.
Pra
falar a verdade, mesmo correndo o risco de ser redundantemente compreendido,
não acredito que o problema político do Brasil seja político. Digo isso pois o
homem político na sua essência deveria ser um homem bom à serviço do outro. Com
isso nós já distorcemos esse termo e dizemos que políticos são os corruptos que
nós escolhemos com o slogan “rouba mas faz”. Político sou eu, político é você,
político somos nós que nos preocupamos com o Brasil em um todo. Portanto, uma
atitude ante política é a da repórter ao mostrar apenas um lado da opinião, a
sua própria, ou de que a paga. Acredito que o Brasil será melhor não só quando
prenderem todos os sanguessugas da PETROBRÁS e reaverem o dinheiro roubado, ou
quando houver uma reforma política, ou quando trabalhadores terceirizados ou
não possuírem direitos e condições dignas de vida humana, ou até mesmo quando a
presidente Dilma sofrer um Impeachment, mas eu acredito que viveremos num país
digno quando o nosso direito não ferir o direito do outro, quando o bem estar
de outras pessoas estiverem inclusas no meu projeto pessoal de beneficiamento,
ou até mesmo quando a felicidade do outro me fizer feliz também. Penso que vale
a pena tentar um mundo assim já que o contrário já provou sua incompetência. Realizar-se
é bom, mas realizar-se sozinho é corrupção, contudo, realizar-se com alguém,
isso sim é democracia.