quinta-feira, 16 de abril de 2015

Democracia, corrupção e o futuro do Brasil


Eu preciso me manifestar, não posso me calar, pois não tenho esse direito!
Ontem (15/04/2015), como costumo fazer as quartas-feiras, fui conhecer um pouco mais da Avenida Paulista e tudo de grandioso que ela tem a nos oferecer, ao menos para contemplar. Ao chegar à Paulista eu notei um fluxo de pessoas bem atípico, contudo não entendi e nem me importei com a movimentação intensa. Segui, como sempre faço, à Livraria Cultura e passeio o restante das horas que me restavam conhecendo livros, autores e compositores.
Quando já era lá por volta das vinte horas decidi voltar para casa e me deparei com a avenida tomada por uma multidão que vestia camisetas em sua maioria vermelhas, bandeiras de diversos tipos, balões gigantes, trio elétrico e pessoas com tons políticos estingando a multidão, aparentemente tratava-se de diversos grupos sociais que formavam uma voz, “Somos os Trabalhadores do Brasil!” Logo identifiquei que se tratava de uma manifestação e lembrei-me das notícias pouco enfáticas que ouvira pela manhã, “Manifestantes tomam as principais capitais brasileiras.”
Como já estava no meio da multidão resolvi acompanha-la para entender um pouco mais do que de fato se tratava e ouvir quais eram as reinvindicações. Logo notei que se tratava de um posicionamento oficial da Central Única dos Trabalhadores (CUT) contra a PL4330, que na sua essência prevê a ampliação da terceirização da mão de obra brasileira. Para os trabalhadores e seus respectivos sindicatos, essa Projeto de Lei é tendenciosamente perigoso pois possui duas fortes vertentes, a econômica e a política. Economicamente permite uma ainda maior exploração da mão-de-obra e o objetivo político é dividir os trabalhadores, fragmentar suas representações sindicais.
 Enfim, caminhei pouco com os manifestantes, devido as uma intensa e fina chuva que caía e por notar um aumento gradativo de pessoas, e também, em se tratando da hora que já se avançava e das notícias desagradáveis de movimentações como essa, resolvi segui meu caminho para casa. Fiquei extremamente impressionado, pois caminhei cerca de 20 minutos no contra fluxo da manifestação e não via o seu fim. Quando passei pela Rua Augusta, que corta a Avenida Paulista, uma multidão a perder de vista ainda vinha como imenso rabixo daquilo que já deveria estar próxima à outra extremidade da Paulista.
Quando eu cheguei em casa comecei a pesquisar nos canais de notícias informações sobre o protesto. O meu interesse era saber o número de pessoas, quais repercussões além dos meus olhos aquelas manifestações tiveram, opiniões de comentaristas políticos e tals. E para a minha decepcionante surpresa ninguém falava nada. Isso mesmo absolutamente nada! Não acreditei no que estava acontecendo, mas não desisti e continue procurando mais afundo, mas apenas a mesma notícia vaga de Protestos contra a PL 4330 pelo Brasil. Inacreditável. Após ao meu fracasso, fui me atualizar acerca das notícias do meu estado de origem, o Espírito Santo, como faço frequentemente. No noticiário local eles deram grande enfoque para as manifestações, contudo, foi lamentável ouvir a repórter dizer “Essas manifestações estão causando muitos transtornos à população”. A declaração dessa repórter me fez escrever esse texto.
Estou extremante decepcionado com o mercado midiático do Brasil. A expressão dessa senhora demonstra a visão unilateralista que a imprensa vem assumindo no nosso país. Ela se diz comprometida com a verdade e que é imparcial, mas trata-se de pura mentira. Isso é muito perigoso, pois além de não dizer a verdade, ela manipula uma porção da sociedade pouco crítica e especulativa.
Obviamente uma movimentação dessas em plena semana causa muito transtorno à muitas pessoas, principalmente se eu não participo desse grupo. Contudo, a pergunta que eu me faço é, em que momento essas pessoas terão o direito de dizer que há algo inconveniente ou inviável acontecendo com as suas vidas, suas histórias, seus futuros? Será que o fantástico vai abrir o microfone para essas pessoas? O jornal Nacional? Não, infelizmente não. Esse espaço está capitalistamente reservado para os passeios familiares de domingo à tarde, que apesar de necessário e fundamental numa democracia, está pautado em argumentos pouco fundamentados na história política do nosso país.

Pra falar a verdade, mesmo correndo o risco de ser redundantemente compreendido, não acredito que o problema político do Brasil seja político. Digo isso pois o homem político na sua essência deveria ser um homem bom à serviço do outro. Com isso nós já distorcemos esse termo e dizemos que políticos são os corruptos que nós escolhemos com o slogan “rouba mas faz”. Político sou eu, político é você, político somos nós que nos preocupamos com o Brasil em um todo. Portanto, uma atitude ante política é a da repórter ao mostrar apenas um lado da opinião, a sua própria, ou de que a paga. Acredito que o Brasil será melhor não só quando prenderem todos os sanguessugas da PETROBRÁS e reaverem o dinheiro roubado, ou quando houver uma reforma política, ou quando trabalhadores terceirizados ou não possuírem direitos e condições dignas de vida humana, ou até mesmo quando a presidente Dilma sofrer um Impeachment, mas eu acredito que viveremos num país digno quando o nosso direito não ferir o direito do outro, quando o bem estar de outras pessoas estiverem inclusas no meu projeto pessoal de beneficiamento, ou até mesmo quando a felicidade do outro me fizer feliz também. Penso que vale a pena tentar um mundo assim já que o contrário já provou sua incompetência. Realizar-se é bom, mas realizar-se sozinho é corrupção, contudo, realizar-se com alguém, isso sim é democracia.

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