Vivemos em um tempo em que falar que
algo é moderno desperta um relevante interesse nas pessoas. Os seres humanos
querem acompanhar a evolução dos tempos, e a palavra “moderno” representa bem
algo em que a humanidade está disposta a gastar boa parte do seu precioso
tempo. Contudo, podemos perguntar: o que é o “moderno”?
Se consultarmos o Aurélio
perceberemos que esta palavra com a mesma grafia possui duas classificações
morfológicas diferentes. Temos o adjetivo “moderno”, aquele em que nós
atribuímos aos acontecimentos da atualidade, ou que estejam mais próximos à nós,
e temos também o substantivo “moderno” que retrata algo em que a sua abstração
parece ser um “ser concreto” devido a sua força e relevância, algo que
transcende ao tempo, ou seja, consiste em um estado em que permite a transição
e a produção de discussões racionais. Vamos tentar filosofar um pouco sobre
esta segunda definição de “moderno”, e que é o objeto do nosso estudo.
A modernidade pode ser entendida
como a visão de mundo relacionada ao projeto empreendido a partir da transição
teórica que Descartes nos apresenta, trata-se da ruptura com a tradição herdada
do pensamento medieval dominado pela Escolástica e o estabelecimento da
autonomia da razão. O projeto da modernidade ganha espaço com a Revolução
Industrial e está normalmente relacionado com o desenvolvimento do Capitalismo.
No entanto, tentativas frustradas de definir a modernidade e suas consequências
existiram por acreditarmos entender e dominar o que tal termo significa.
Contudo, o termo é de profunda complexidade e, para que seja melhor compreendido,
é necessário que nós sejamos despretensiosos ao analisa-lo, se almejarmos
aprofundar a sua identidade e real significação.
Para isso, no Livro: O Projeto da
Modernidade: autonomia, secularização e
novas perspectivas, do professor Pe. José Carlos Aguiar, SVD, fomos conduzidos a um enraizamento nas estruturas
do termo “modernidade”, bem como a sua identidade e legitimidade, a fim de
fazê-lo conhecido e com o seu devido reconhecimento. Nesse contexto, entendemos
que a discussão dialética sobre a modernidade tem o seu ápice, tanto na obra
quanto nas aulas, quando somos introduzidos na complexa discussão travada entre
Blumenberg e Löwith. O tema da secularização não é apresentado apenas como uma
forma descritiva para mostrar a falta de um elemento sagrado que deixou de
existir no pensamento contemporâneo, mas muito mais do que isso, trata-se de um
tema categórico que explicaria as diversas faces da modernidade, ou seja, o
termo da secularização possui uma função de interpretação que revela a
identidade da era, do tempo, da modernidade. Descartes, com as meditações e a
tese da sistematização racional contribui para que o termo decolasse, com isso,
Löwith vai dizer que a Idade Moderna foi capaz de criar não só a si própria,
mas criou também as outras épocas históricas, das quais se difere. Contudo,
Blumenberg apresenta a ideia do self que vai contra os argumentos de
Löwith e defende a autonomia pelo projeto existencial, sendo assim, essa ideia
de continuidade é o cerne da Idade Moderna. O surgimento de uma nova era, uma
nova idade, parte da necessidade de responder questões anteriores, questões que
foram levantadas em situações epocais primitivas a essas, e que estavam
congeladas. Com o surgimento da Idade Moderna, os pensadores que a inauguravam
sentiram a necessidade de retomar tais questões a fim de supri-las, e eis que
surge a luz dos novos tempos.
Esse debate em torno da modernidade
abre novas perspectivas para a compreensão da constelação dos pensadores que
despontam no cenário filosófico contemporâneo. Blumenberg, em sua defesa da
modernidade, nos oferece os instrumentos teóricos necessários para iluminar o
debate atual sobre modernidade e abrir possibilidades de compreensão de uma era
que tenta, arduamente, conseguir transparência consigo mesma.
E assim, quando retornamos a
Descartes, “Penso, logo existo”, entendemos melhor esse embate filosófico
acerca da modernidade, pois, compreendo como que Descartes e os pensadores da
Idade Moderna, como, Löwith e Blumenberg, intencionaram consolidar a existência
da razão e a sua capacidade de significação. Como se a ausência de um elemento
não estivesse intrínseca nele, mas na relação que diferentes elementos tenham
entre si. Seria como a relação natureza e homem ou homem e Deus. E essa relação
é racional, assim inauguramos uma nova era, a era da filosofia da consciência,
da razão e do sujeito, negando tudo para se chegar a um ponto mais coerente e
coeso. E assim, como um novo método, com uma nova estrutura racional
inauguramos um novo tempo denominado Idade Moderna.
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