sexta-feira, 12 de abril de 2013

A inauguração da Modernidade e a sua consolidação



            Vivemos em um tempo em que falar que algo é moderno desperta um relevante interesse nas pessoas. Os seres humanos querem acompanhar a evolução dos tempos, e a palavra “moderno” representa bem algo em que a humanidade está disposta a gastar boa parte do seu precioso tempo. Contudo, podemos perguntar: o que é o “moderno”?
            Se consultarmos o Aurélio perceberemos que esta palavra com a mesma grafia possui duas classificações morfológicas diferentes. Temos o adjetivo “moderno”, aquele em que nós atribuímos aos acontecimentos da atualidade, ou que estejam mais próximos à nós, e temos também o substantivo “moderno” que retrata algo em que a sua abstração parece ser um “ser concreto” devido a sua força e relevância, algo que transcende ao tempo, ou seja, consiste em um estado em que permite a transição e a produção de discussões racionais. Vamos tentar filosofar um pouco sobre esta segunda definição de “moderno”, e que é o objeto do nosso estudo.
            A modernidade pode ser entendida como a visão de mundo relacionada ao projeto empreendido a partir da transição teórica que Descartes nos apresenta, trata-se da ruptura com a tradição herdada do pensamento medieval dominado pela Escolástica e o estabelecimento da autonomia da razão. O projeto da modernidade ganha espaço com a Revolução Industrial e está normalmente relacionado com o desenvolvimento do Capitalismo. No entanto, tentativas frustradas de definir a modernidade e suas consequências existiram por acreditarmos entender e dominar o que tal termo significa. Contudo, o termo é de profunda complexidade e, para que seja melhor compreendido, é necessário que nós sejamos despretensiosos ao analisa-lo, se almejarmos aprofundar a sua identidade e real significação.
            Para isso,  no Livro: O Projeto da Modernidade: autonomia, secularização e novas perspectivas, do professor Pe. José Carlos Aguiar, SVD,  fomos conduzidos a um enraizamento nas estruturas do termo “modernidade”, bem como a sua identidade e legitimidade, a fim de fazê-lo conhecido e com o seu devido reconhecimento. Nesse contexto, entendemos que a discussão dialética sobre a modernidade tem o seu ápice, tanto na obra quanto nas aulas, quando somos introduzidos na complexa discussão travada entre Blumenberg e Löwith. O tema da secularização não é apresentado apenas como uma forma descritiva para mostrar a falta de um elemento sagrado que deixou de existir no pensamento contemporâneo, mas muito mais do que isso, trata-se de um tema categórico que explicaria as diversas faces da modernidade, ou seja, o termo da secularização possui uma função de interpretação que revela a identidade da era, do tempo, da modernidade. Descartes, com as meditações e a tese da sistematização racional contribui para que o termo decolasse, com isso, Löwith vai dizer que a Idade Moderna foi capaz de criar não só a si própria, mas criou também as outras épocas históricas, das quais se difere. Contudo, Blumenberg apresenta a ideia do self que vai contra os argumentos de Löwith e defende a autonomia pelo projeto existencial, sendo assim, essa ideia de continuidade é o cerne da Idade Moderna. O surgimento de uma nova era, uma nova idade, parte da necessidade de responder questões anteriores, questões que foram levantadas em situações epocais primitivas a essas, e que estavam congeladas. Com o surgimento da Idade Moderna, os pensadores que a inauguravam sentiram a necessidade de retomar tais questões a fim de supri-las, e eis que surge a luz dos novos tempos.
            Esse debate em torno da modernidade abre novas perspectivas para a compreensão da constelação dos pensadores que despontam no cenário filosófico contemporâneo. Blumenberg, em sua defesa da modernidade, nos oferece os instrumentos teóricos necessários para iluminar o debate atual sobre modernidade e abrir possibilidades de compreensão de uma era que tenta, arduamente, conseguir transparência consigo mesma.
            E assim, quando retornamos a Descartes, “Penso, logo existo”, entendemos melhor esse embate filosófico acerca da modernidade, pois, compreendo como que Descartes e os pensadores da Idade Moderna, como, Löwith e Blumenberg, intencionaram consolidar a existência da razão e a sua capacidade de significação. Como se a ausência de um elemento não estivesse intrínseca nele, mas na relação que diferentes elementos tenham entre si. Seria como a relação natureza e homem ou homem e Deus. E essa relação é racional, assim inauguramos uma nova era, a era da filosofia da consciência, da razão e do sujeito, negando tudo para se chegar a um ponto mais coerente e coeso. E assim, como um novo método, com uma nova estrutura racional inauguramos um novo tempo denominado Idade Moderna.

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