Certa
vez um viajante passava por uma pequena vila onde havia uma antiga lenda sobre
a existência de um valioso tesouro escondido na margem oposta do rio que corria
próximo àquela vila. O homem ao tomar consciência da lenda dirigiu-se
apressadamente ao rio citado na lenda.
Quando
o viajante preparava-se para adentrar naquelas águas escuras e aparentemente
tenebrosas, eis que surge um respeitado ancião que vivia na vila e lhe disse:
“Se eu fosse você não arriscaria entrar nessas águas amaldiçoadas, este é rio é
muito profundo e sua correnteza arrasta tudo o que está a sua frente.” O
viajante temeu tal advertência e preferiu aguardar um pouco mais antes de
aventurar-se, decidiu ficar e elaborar um plano para chegar à outra margem.
Nessa ocasião, a lenda ficou conhecida pela região, de forma que atraiu
inúmeros curiosos.
Chegou
a vila um forasteiro que possuía conhecimento científico, e dirigiu-se
imediatamente ao rio. Ao chegar em sua margem encontrou aquele viajante sonhando,
e começou a preparar a sua canoa afim de colocá-la na água e alcançar a outra
margem. Quando estava prestes a fazê-lo foi interpelado pelo viajante: “Espero
que você não ouse atravessar este rio amaldiçoado com esta canoa, este rio
profundo possui uma correnteza feroz, o último canoeiro que tentou atravessar
foi sugado pela queda livre como a terra suga a água da chuva.” O forasteiro
preocupado com tal colocação po-se a pensar o que fazer para alcançar a outra
margem.
Chegou
à margem uma equipe de mergulhadores e se puseram a preparar os equipamentos a
fim de alcançar a outra margem. Eis que o viajante e o forasteiro se
aproximaram da equipe e disseram: “Vocês serão capazes de mergulhar neste rio
amaldiçoado? Existem feras horrendas que habitam sua profundeza e devoram
qualquer coisa que se atreva a cruzar essas águas.” Ao ouvirem isso os
mergulhadores temeram e preferiram rever seus cálculos de mergulho.
Dessa
forma surgiram outros e outros que se punham a margem e temiam as águas
profundas daquele rio, formando uma multidão que se punha a margem a discutir
sobre a maldição do rio, a lenda do tesouro ficara para segundo plano, o
assunto principal era o monstro que se tornara o rio.
Der
repente, para surpresa de todos que estavam ali, um jovem saiu da margem e
ousou pisar na água sem nenhum equipamento, um homem com o seu braço alcançou-o
e tocou fazendo com que ele se virasse, a multidão pô-se a discursar sobre a
maldição do rio com grande veemência, ao fim do discurso o jovem sorriu, fez um
leve acenou com a mão e aumentou os passos rumo a outra margem, a mão e
aumentou os passos rumo a outra margem, o povo desesperou-se, esperando o
extraordinário a qualquer momento, mas o jovem continuou sua caminhada, sua
travessia. O jovem, com água na cintura, no máximo acima do umbigo, chegou até
a outra margem, resgatou o tesouro, que era seu por direito, para surpresa e
loucura de todos que se punham a margem oposta do rio. Eles não compreendiam,
se perguntavam por que, discutiam entre si e permaneciam à margem, enquanto
aquele único e simples jovem alegrava-se.
O
fato ficou mundialmente conhecido, fazendo com que canais de TV de todo o
planeta cobrissem o fato. Contudo, um fato ainda maior chamou a atenção de
todos. Quando os repórteres foram entrevistar aquele que se tornara o homem mais
rico do mundo, descobriram que ele era surdo.
O
jovem desprovido de equipamentos modernos, sem conhecimento técnico, sem muitas
ambições, possuía algo que àqueles que estavam à margem não possuíam, a falta
de audição. Assim também devemos ser, para sairmos da margem, para quebrarmos
paradigmas, mudarmos a condição atual, precisamos estar surdos para as vozes
internas e externas. Somente a coragem, a razão e a voz do coração serão
capazes de nos ajudar num processo de transformação, em quebrar paradigmas, e
nos conduzir a uma vida feliz.