domingo, 12 de fevereiro de 2012

ATO DE FALAR OU ATO DE AGIR?



         Certa vez em um dos passeios do noviciado estávamos a conhecer as belas igrejas da cidade natal do nosso mestre. Em uma das igrejas, talvez a de arquitetura mais moderna e convidativa, encontramos as portas fechadas seno possível apenas observar o seu interior através de suas magníficas portas de vidro temperado. A parte externa da igreja era linda, um gigante presépio pousava sobre um jardim bem cuidado. Desde a nossa chegada, havia uma mulher que se punha a rezar fervorosamente diante da entrada principal deste magnífico templo.
         O nosso mestre frustrado com a ideia de não poder nos apresentar o interior de tão importante obra, dirigiu-se até a casa paroquial afim de encontrar alguém que pudesse abrir-nos a porta. E para a sua surpresa encontrou o próprio pároco para fazer tamanha gentileza, que o fizera com tamanho carinho e disponibilidade. Foi muito bom, tivemos a oportunidade de conhecer uma pessoa ímpar, singular em nossa sociedade. Ele, o pároco, era um renomado mestre da filosofia e da comunicação social, especialista em mitologia grega e diretor-apresentador de programas de radiofusão. Suas palavras invadiam-me e faziam arder meu coração, eu pensava, "meu Deus, quanta propriedade e discernimento,"e ainda pensava que tanta coisa assim à serviço da igreja só poderia alcançar grandes benefícios e bênçãos para o grande povo de Deus. E eu me identifiquei demais com aquele padre, principalmente quando ele nos dizia, "vocês enquanto salesianos tem uma grande missão no mundo contemporâneo, que é trazer alegria às pessoas que nele habitam e que vivem cheias de tristeza, vocês precisam ser palhaços como Dom Bosco e encher este mundo de alegria." Ele nos falava da urgência em comunicar a verdade de forma aprofundada, que crie raízes na sociedade, pois as informações que são vinculadas hoje estão cheias de nada, são vazias r superficiais.
         A essa altura eu já não estava tão preso a sua argumentação, não porque eu não concordava, não por isso, mas ao contrário, eu concordava plenamente com tais palavras, contudo naquele momento eu pude perceber a distância, ou melhor, o abismo que existe entre o dizer e o fazer, entre a palavra e o ato. Daí eu percebi o quanto eu precisava ser melhor do que eu já sou. Percebi o quanto eu precisava melhorar minhas atitudes e administrar os meus vícios.
         Uma coisa que eu não te contei, foi a seguinte: a mulher, que eu julguei ser beata piedosa, que se punha a rezar fervorosamente no inicio desta história, ao notar a chegada do pároco, dirigiu-se a ele com um olhar inchado de quem pedia socorro, e solicitou um simples atendimento, para surpresa dela e minha também, o pároco julgou-se ocupado para árduo ofício e pediu que ela voltasse no horário próprio de atendimento, dando-lhe de ombros continuou a nos cumprimentar e a nos formar partilhando sua preciosa sabedoria. A conversa foi muito agradável e produtiva, contudo, eu não consegui parar de observar a mulher que despencou aos prantos diante daquele magnífico blindex que a ouvia com tom indiferente e parecia não se importar com a sua presença ou a sua dor.
         Eu me julguei tão incapaz de fazer algo por aquela mulher que realmente o fui, não apenas incapaz, mas indiferente como os outros. assim, houve uma chamada no celular, um carro estacionando e um homem estranho a conduzindo ao carro que partiu sem deixar vestígios de sua história, de sua dor, de seu amor.
         Hoje me flagelo por não ter ma dado a oportunidade de escutar a história daquele ser humano, talvez ela precisasse apenas de ser ouvida, precisasse apenas de um atendimento, talvez aquela senhora não precisasse sofrer mais, e se ela estiver chorando até agora, a culpa é minha que falhei na minha missão de difundir a alegria no mundo.

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