Certa
vez em um dos passeios do noviciado estávamos a conhecer as belas igrejas da
cidade natal do nosso mestre. Em uma das igrejas, talvez a de arquitetura mais
moderna e convidativa, encontramos as portas fechadas seno possível apenas
observar o seu interior através de suas magníficas portas de vidro temperado. A
parte externa da igreja era linda, um gigante presépio pousava sobre um jardim
bem cuidado. Desde a nossa chegada, havia uma mulher que se punha a rezar fervorosamente
diante da entrada principal deste magnífico templo.
O nosso mestre frustrado com a ideia de
não poder nos apresentar o interior de tão importante obra, dirigiu-se até a
casa paroquial afim de encontrar alguém que pudesse abrir-nos a porta. E para a
sua surpresa encontrou o próprio pároco para fazer tamanha gentileza, que o
fizera com tamanho carinho e disponibilidade. Foi muito bom, tivemos a
oportunidade de conhecer uma pessoa ímpar, singular em nossa sociedade. Ele, o
pároco, era um renomado mestre da filosofia e da comunicação social,
especialista em mitologia grega e diretor-apresentador de programas de
radiofusão. Suas palavras invadiam-me e faziam arder meu coração, eu pensava,
"meu Deus, quanta propriedade e discernimento,"e ainda pensava que
tanta coisa assim à serviço da igreja só poderia alcançar grandes benefícios e bênçãos
para o grande povo de Deus. E eu me identifiquei demais com aquele padre,
principalmente quando ele nos dizia, "vocês enquanto salesianos tem uma
grande missão no mundo contemporâneo, que é trazer alegria às pessoas que nele
habitam e que vivem cheias de tristeza, vocês precisam ser palhaços como Dom
Bosco e encher este mundo de alegria." Ele nos falava da urgência em
comunicar a verdade de forma aprofundada, que crie raízes na sociedade, pois as
informações que são vinculadas hoje estão cheias de nada, são vazias r
superficiais.
A essa altura eu já não estava tão
preso a sua argumentação, não porque eu não concordava, não por isso, mas ao
contrário, eu concordava plenamente com tais palavras, contudo naquele momento
eu pude perceber a distância, ou melhor, o abismo que existe entre o dizer e o
fazer, entre a palavra e o ato. Daí eu percebi o quanto eu precisava ser melhor
do que eu já sou. Percebi o quanto eu precisava melhorar minhas atitudes e
administrar os meus vícios.
Uma coisa que eu não te contei, foi a
seguinte: a mulher, que eu julguei ser beata piedosa, que se punha a rezar fervorosamente
no inicio desta história, ao notar a chegada do pároco, dirigiu-se a ele com um
olhar inchado de quem pedia socorro, e solicitou um simples atendimento, para
surpresa dela e minha também, o pároco julgou-se ocupado para árduo ofício e
pediu que ela voltasse no horário próprio de atendimento, dando-lhe de ombros
continuou a nos cumprimentar e a nos formar partilhando sua preciosa sabedoria.
A conversa foi muito agradável e produtiva, contudo, eu não consegui parar de
observar a mulher que despencou aos prantos diante daquele magnífico blindex
que a ouvia com tom indiferente e parecia não se importar com a sua presença ou
a sua dor.
Eu me julguei tão incapaz de fazer algo
por aquela mulher que realmente o fui, não apenas incapaz, mas indiferente como
os outros. assim, houve uma chamada no celular, um carro estacionando e um
homem estranho a conduzindo ao carro que partiu sem deixar vestígios de sua
história, de sua dor, de seu amor.
Hoje me flagelo por não ter ma dado a
oportunidade de escutar a história daquele ser humano, talvez ela precisasse
apenas de ser ouvida, precisasse apenas de um atendimento, talvez aquela
senhora não precisasse sofrer mais, e se ela estiver chorando até agora, a
culpa é minha que falhei na minha missão de difundir a alegria no mundo.
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