segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quem Viver Verá!


Os jornais de maior circulação no Espírito Santo divulgaram, no mês passado, o resultado de pesquisas estatísticas, encomendadas por denominações evangélicas, apontando que o público cristão não-católico chega a 47% dos capixabas. A ênfase estava na alta porcentagem de jovens que migraram de opção religiosa. Alguns líderes não-católicos entrevistados vêm opinando sobre a causa dessa transferência de católicos para as denominações protestantes e as seitas pentecostais. Segundo eles, seu sucesso se deve ao fato de eles terem percebido a tempo que os jovens não gostam de rituais e de liturgias tradicionais, preferindo cultos espontâneos, que apelam para o emocional e o eufórico. Pastores chegaram a dizer que o erro do catolicismo está na proibição de palmas e coreografias nas missas etc. Puro equívoco, ledo engano, rasa ilusão.

É no mínimo triste ouvir lideranças não-católicas atribuir seu próprio sucesso estatístico ao fracasso do catolicismo, que, infelizmente, consideram seu “concorrente”. Não perceberam ainda que o problema é bem maior; e que vai afetar também os seus púlpitos, em breve. Não leram de forma integral as informações do último censo realizado no país, no ano 2000. O que mais cresce é o ateísmo, o agnosticismo, a indiferença denominacional e mesmo o desprezo pelas instituições religiosas em geral. Francamente, é subestimar o fiel dizer que a migração religiosa é simples assim: “vou mudar para a tal igreja porque lá posso bater palmas, dançar e pular”. Será que os 10% de fiéis que a Igreja Católica perdeu numa década não correspondem aos 10% de novos agnósticos, que se cansaram de migrar de redil em redil procurando soluções mágicas para seus problemas, decepcionados com tantas ilusões diante de promessas que a religião cristã, para ser fiel à Bíblia, jamais poderia fazer?

A liturgia da Igreja Católica, bem longe de ser a culpada pelo seu suposto enfraquecimento entre as massas, tem sido, através dos séculos, justamente o que a mantém viva e atuante em todo o mundo. Desde que o rito não esteja a serviço de um engessamento da fé – lembrando o que disse seu Fundador: “o vento sopra onde quer” (cf. Jo 3) –, ele é necessário para consolidar e dar força ao conteúdo, evitando que este se perca ao sabor de opiniões subjetivas, modismos circunstanciais ou crises da cultura. Há provas literárias de que a Eucaristia é celebrada com esta mesma estrutura litúrgica desde o século I. É também evidente que a liturgia católica – com suas variantes romana e orientais – dá sequência à riquíssima tradição cultual judaica. É bom lembrar que Jesus instituiu o banquete sacramental do seu sacrifício não dentro de uma festinha espontânea com enfoque emocional, mas seguindo estritamente o ritual judaico da ceia pascal (cf. Ex 12), recitando os salmos previstos havia séculos para aquela ocasião. A liturgia da Missa une perfeitamente, com sobriedade e zelo, a tradição da sinagoga e a do Templo, a da Palavra e a dos sacrifícios. E não pensa em mudar coisa alguma para agradar a este ou aquele público. O catolicismo já tem experiência história suficiente para saber que não se podem usar na religião as mesmas ferramentas que se usam no mercado para vender produtos com mais eficiência.

Haveremos de ver, portanto, dentro de décadas, o esgotamento de determinadas formas de culto cristão liberal, esotérico, de caráter pentecostal, que cairão no vazio imposto aos que vivem pressionados a sempre ter que inventar novidades. E haveremos de ver os padres, séculos adiante, subindo, da mesma forma que sempre, ao altar para apresentar ao Pai o sacrifício de Jesus nas espécies do pão e do vinho.

O autor é padre católico e trabalha em Cachoeiro de Itapemirim-ES
Juliano Ribeiro Almeida

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