Quero partilhar com vocês uma
reflexão que fiz a partir de algo que me aconteceu recentemente. Pois bem, ao
terminar um intenso e frutuoso dia de atividades apostólicas, eu e mais dois
amigos fomos dar uma volta no parque Vila Lobos e curtir um fabuloso show com
Luiza Posse afim de curtir, relaxar, arejar a cabeça e nos divertir. Feito
isso, nada melhor do que uma parada para um lanche. Nos dirigimos até a uma
dessas Delicatessen ultra, hiper,
mega modernas onde encontramos tudo de tudo e com especial sabor e elementar valor. Após descontraído bate papo regado de deliciosas
especiarias nos dirigimos ao caixa afim de pagar a conta. Um detalhe importante
é que cada um recebeu uma comanda eletrônica onde deveria ser registrada as
despesas individuais de cada um de nós, e nela estava escrito: “a perda desta
comanda implicará o pagamento do valor de R$300”. Fiquei com tanto medo de ter
que lavar pratos para pagar a perda de um pedaço de papel que não media mais do
que vinte centímetros, que o guardei em lugar bem seguro.
Já no caixa de pagamento, a
atendente, ao descrever o que estava registrado na minha comanda de consumo me
cobrou um valor abaixo do que eu esperava ser cobrado. Surpreso, ao conferir os
insumos, percebi que não estava sendo cobrado os Chopp que eu havia tomado, foi
quando disse a ela que faltava registrar as bebidas. Fiquei orgulhoso de mim
mesmo ao sair de lá como quem acabara de fazer uma boa ação, orgulhoso de ter
sido honesto ao ponto de contribuir com os problemas políticos no nosso país,
de ter sido virtuoso, mesmo que com um aumento considerável do valor a ser
pago.
Diz
o ditado popular que alegria de pobre dura pouco, mas acho mesmo que o correto deveria
ser, a alegria de gente honesta dura pouco. Ao chegar em casa fui conferir o
cupom fiscal e percebi que foram inclusos na lista de consumo uma omelete e um
refrigerante que não faço ideia de onde vieram. Meu Deus, que raiva! Fiquei com
tanto ódio por pensar que a minha recompensa por ser honesto foi incluir o que
não consumi. A ideia que vinha a minha cabeça era de que havia sido roubado na
cara dura. A minha raiva se dava pelo fato de eu não ter me atentado para
cobrança indevida e também pela desonestidade desses ladrões “Classe A”. Fiquei
com vontade de voltar ao lugar, mas de que adiantaria? Então só tem um jeito,
de hoje em diante, pode ter a fila que for, mas farei questão de conferir cada
item junto ao atendente de caixa antes de efetuar o pagamento.
Após
a esse episódio fiquei pensando e refletindo no sentimento que tal fato me
causara. Meu Deus, como eu gostaria de ter sido reconhecido, como eu gostaria
de ter sido recompensado pelo meu bravo ato de honestidade. Mas exatamente aí descobri
que o meu erro foi esse, querer receber recompensa por aquilo que eu deveria
fazer como obrigação. A honestidade tem sido um ser tão extinto em nossa
sociedade que quando a vemos damos tanto destaque que sem perceber nós criamos
a virtude da honestidade esquecendo da honestidade original que não passa de
mera obrigação. O que nos deveria causar estranheza é a desonestidade, isso sim
deveria ser fato raro, digo ousadamente, inexistente.
A
nossa sociedade só será um espaço de fraternidade e de bom convivência político-social
quando começarmos a exercer, não as qualidades, mas a essência do ser humano,
ou seja, fazer aquilo que nós nascemos para fazer, viver uma vida com vantagens
pessoais sem favorecer a desvantagem de outrem. Acho que quando percebermos
isso, entenderemos que quem fura fila, manipula troco, tira vantagem das outras
pessoas, rouba ou até cobra indevidamente por produtos não consumidos não fazem
parte da classe dos nominados seres humanos por não compactuarem com as reais atitudes
que o tornam na essência, obrigatoriamente seres honestos e virtuosos.