Algumas semanas antes de chegar ao
Rio de Janeiro fui informado da minha principal função com o grupo de
italianos, dirigir pelos quatro cantos do Rio e ser uma espécie de “guia
turístico” levando-os onde fosse necessário. Na mesma hora passou um filme na
minha cabeça, e logo o lancei para o promotor da proposta... “Nunca andei pelo
Rio, muito menos dirigi por lá; e quanto ao italiano eu até entendo, mas não
sei falar direito!” A resposta veio logo em seguida sem titubeação, “Isso não é
problema! Eles só precisam de um salesiano para acompanha-los, e o resto será
providenciado.” E realmente foi... Providenciei imediatamente de aprender a
mexer com o GPS do meu Smatphone. Ufa! Que salvação.
Vários episódios engraçados
ocorreram durante a minha função de chofer internacional. Uma que, na minha
opinião, foi a mais irônica aconteceu numa noite que saíamos de Niterói rumo a
Barra da Tijuca, havia chuva e pouca visibilidade, o GPS era meu amigo e
conselheiro, dado que era o único que se fazia entender no meio de tanta
confusão e falatório. Em um certo momento um dos italianos começou a gritar “sinistra, sinistra, sinistra”! Eu sabia
lá o que isso significava!? E segui tranquilamente até o meu GPS informar
“Recalculando rota!” Percebi que havia algo de errado! Daí, tomei consciência
de que os italianos estavam tentando se comunicar com as mãos que era para eu
ter seguido a pista da esquerda. Pensei comigo: “Fudeu! Estou perdido no Rio de
Janeiro com um bando de gringos!” Segui em busca de uma forma de retornar para
tentar concertar o erro, mas não havia nada do tipo. Seguindo o trajeto não
oficial fui chegar à Lagoa Rodrigo de Freitas na Zona Sul do Rio de Janeiro,
para minha surpresa os italianos já conheciam aquela região e começaram a me
orientar com os braços dizendo qual rua e avenida eu deveria seguir. Tudo isso
foi meio confuso, mas eu aprendi que “sinistra”
é esquerda, “diritto” é direita e “diretto” é seguir em frente. Foi
divertido, porém irônico um brasileiro ser guiado por estrangeiros em sua
própria pátria.
Diz um ditado popular que Deus
protege os loucos, bêbados e crianças, pois bem, nos enquadramos nesse ditado.
Era uma noite de muita chuva e frio, e mais uma vez estávamos saindo de Niterói
rumo a Tijuca, e este episódio aconteceu sobre a ponte Rio-Niterói (Fiquei
craque nessa ponte, pois passava por ela cerca de seis vezes por dia). O
transito estava muito lento devido a chuva, e em alguns trechos chegávamos a
parar o carro, num desses momentos os burburinhos em italiano começaram a
aumentar e quando eu dei por mim as portas traseiras se abriram e dois
italianos, o Ricardo, cinegrafista, e o Antônio, jornalista, saíram do veículo
e começaram a gritar “siamo italiani”,
eles gritavam e pulavam pela ponte, rodavam o carro e gritavam. O Ricardo
portava uma filmadora de £95,000,00 (noventa e cinco mil euros). Confesso que
nessa hora eu fiquei com medo e gritava para eles entrarem no carro, até que
assim fizeram quando o transito começou a fluir. Eles se divertiram demais com
isso, e ainda gritavam pela janela “Napoli”
comparando o Rio de Janeiro com a cidade de Napoli na Itália. Depois de passado
o episódio fui informado que a nossa sorte foi que nenhum policial viu a
situação, pois se tivesse presenciado teríamos todos passado a noite na cadeia
por tentativa de homicídio de suicídio. Imagina só o risco de corremos.
Depois de tanto susto e após um dia
fatigante e cansativo só nos restava “comer, banhar e dormir”. Usei a
expressão: “Estou com uma fome de leão” e eles me ensinaram “há uma fame da lupi” e assim encerramos
a noite satirizando o hábito alimentar de cada cultura. Eles por comerem batata
com maionese e nós por comermos pizza com maionese. Enfim, tudo se encerrou em
paz.