sábado, 16 de fevereiro de 2013

A morte de um artista



            Não consigo escrever! Parece que se esgotou tudo o que me motiva a rimar versos, inventar palavras, entoar estrofes. Estou vivendo um longo período de aridez poética, por isso resolvi percebê-la, resolvi torna-la pública. Enquanto eu fazia questão de não identifica-la, eu não fui capaz de conhecê-la, não fui capaz de desprender-me do mundo material, não fui capaz de produzir versos, poemas e canções. E agora ao torna-la pública, estou até escrevendo sobre ela. Seria cômico se não fosse trágico, antes eu escrevia sobre as garotas e seus belos sorrisos, a lua e as estrelas, a natureza e Deus, e agora encontro-me a escrever sobre a arte de não ter inspirações para escrever. Se ao menos eu soubesse de alguma receita que me auxiliasse a vencer esta falta de sensibilidade artística, eu seguiria fielmente.
            Por acaso, você faz alguma ideia do que é perder a sensibilidade artística? Se não sabe, vou tentar ilustrar aquilo que não pode ser visto, tocado ou percebido. Tente imaginar uma pessoa que após viver longos anos fascinado pelas formas e as cores e repentinamente perde a visão! Imagine um jovem esportista que é condenado à tetra paralisia após a um grave acidente. Você foi capaz de imaginar estas cenas? Se sim, então você deve estar começando a entender como é a morte do artista. Sim, um artista não morre quando perde a vida, mas quando perde a sensibilidade da vida.
            Confesso, estou morrendo, mas antes que a falta de sensibilidade sepulte a minha arte, vou denunciar os meus assassinos. Essa aridez que corta a minha garganta e faz com que a minha alma perambule por aí sem verso, rima ou melodia é apenas reflexo das minhas próprias escolhas. Sim, é isso mesmo  que você imaginou, eu estou me matando, pois a minha vida artística depende das escolhas que fiz, que faço, e que vou fazendo ao longo da história. O artista se consome quando deixa de acreditar em tudo aquilo que lhe inspira, o artista morre quando a sua arte torna-se objeto da sua realidade. Uma vez uma pessoa me disse que não acreditava na existência de inspiração para escrever, e só hoje eu estou sendo capaz de compreender isso. Realmente não existe inspiração, pois tudo o que inspira o artista sempre esteve presente na realidade, mas nem sempre foi sentido, percebido ou experimentado, como as pessoas, o universo, a natureza, enfim, que são os principais objetos ousadamente transformados em vida. A diferença é que o artista agrega estes elementos como parte do seu existir, e ele deixa de viver quando passa a percebê-los como objeto, ou quando passa a não percebê-los.
            Acho que estou morrendo, eu já não vejo ou enxergo como antes, muitas coisas deixaram de existir diante dos meus olhos, e o que era abstrato tornou-se concreto. Esgotou-se a minha razão de existir.

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